Relendo pequenos excertos do Livro de Paul Harris “Meu caminho para Rotary”, de 1945, cuja tradução para o português foi feita por Olavo Alberto de Carvalho e recebeu prefácio de Paulo Viriato Corrêa da Costa, há exatos 45 anos, voltei no tempo. O livro é um quadro onde passeia um menino livre e feliz, entre montanhas e vales, cercado pelo amor da família, em seu sítio em Vermont, Nova Inglaterra.

Em suas palavras ali nascia a semente de Rotary, movimento internacional que nem ele jamais imaginaria o futuro. Semente espalhada pelo planeta, germinou, gerou frutos, ofereceu abrigo e despertou sentimentos de tolerância e compreensão, amizade e solidariedade espontâneas.

Vi-me adolescente, em Mato Grosso do Sul, surpresa diante de uma espécie de escultura, que vim a saber pelo meu professor de Latim e diretor do colégio em que estudava, tratar-se de um marco Rotário. A seguir identificou-se como Rotariano, algo obscuro e quase místico. Mostrou-me o trabalho das esposas de rotarianos na Casa da Amizade. Fiquei fascinada. Adolescente e mulher eram coisas impensáveis em Rotary. O tempo passa, deixo Mato Grasso (na época indiviso), venho para o Rio de Janeiro. Início de década de 60. Muitas transformações no Brasil e no mundo o que contaminou o Rotary e abriu as portas, não sem dificuldades, para admitir as mulheres, alguns anos à frente.

Iniciei a vida em Niterói, RJ, em uma empresa cujo diretor era rotariano e responsável pelo Boletim do seu Clube, ainda na década de 60. Missão essa que me foi conferida como voluntária e que me cativou. Ao terminar o período, fui homenageada pelo trabalho com precioso brinde, o qual ainda conservo com carinho, por representar meu primeiro contato com Rotary.

Rotary era apenas sonho. A vida levou me para o torvelinho da advocacia e viagens até que José Carlos Lino de Carvalho, rotariano, apaixonado e ativo, que viria a ser meu esposo, e hoje Patrono da Cadeira nº 29 da egrégia ABROL Rio – Academia Rotária de Letras da Cidade do Rio de Janeiro, o qual levou-me, em 1998 para o Rotary Club Rio de Janeiro Glória. Clube querido com larga trajetória de serviços à comunidade e rotarianos ilustres. Lá servi, em quase todas as Avenidas, fui duas vezes Presidente do clube. A primeira, no período 2001-2002, cujo tema era “Humanidade é a nossa missão”, tive a honra e o prazer de ter como Governador o Ilustre Presidente desta casa, Joper Padrão do Espírito Santo. A segunda vez no período de 2017-2018, do Governador Henrique Sampaio Corrêa. Em minhas gestões sempre alimentei emoção e dedicação especial à Fundação Rotária. Por duas vezes fui Governadora Assistente e uma vez como Coordenadora de Governadores Assistentes, nas gestões do Governadores José Lebeis, Alice Lorentz e Ivone Sachetto, estas duas ilustres Acadêmicas da ABROL Rio, junto aos grandes Clubes da Cidade do Rio de Janeiro como Copacabana, Lagoa e Urca. Hoje com orgulho e carinho, pertenço ao Rotary Club da Tijuca, um setentão vigoroso.

Fui contemporânea de Paulo Viriato Corrêa da Costa, sem conhecê-lo pessoalmente.

Confesso que ouvi sempre referências a sua excelente atuação Rotária e o impulso que imprimiu em Rotary durante a sua brilhante trajetória. Mas, não me detive a conhecer, de fato, sua vida, o que ora faço com emoção e admiração renovadas a cada página de seu livro, de feliz título: “Missionário de Rotary”, pois foi e continua sendo um fanal para quem quer inteira-se do que é ser um Rotariano, com fé, entusiasmo e ação, palavras que o definem. Inovador, tinha o olhar no futuro e atuava com vigor no presente. Grandes conquistas tiveram sua marca, por exemplo a conquista pelo Brasil da proporcionalidade equânime (Emenola Filizola 72.8) que propiciava ao país influir nas decisões fundamentais e diretrizes de Rotary. Valorizou e incentivou a entrada das mulheres em Rotary, através da divulgação e reconhecimento das participações delas nas Assembleias e Conferencias.

Faço esta introdução para que os leitores e confrades avaliem a felicidade e emoção com que recebi a indicação para ocupar, como fundadora, a cadeira nº 5, cujo Patrono, é o inesquecível e imortal Paulo Viriato Corrêa da Costa, com ênfase, um dos maiores expoentes do Rotarismo no Brasil e no exterior, cujo currículo de serviços à humanidade o dignifica, enobrece e estimula a todos os que o conheceram pessoalmente ou conhecem sua biografia. Espero merecer a honra que me confere a cadeira.

Resumir a vida de Paulo Viriato Corrêa da Costa, não é tarefa fácil, tal sua riqueza. O homem se confunde com sua história de sonhos e realizações.

Eduardo Alvares de Souza Soares cita Alceu Amoroso Lima, que diz: “que os seres realmente indistintos passem pela vida sem ser notados, é natural. Que as obras dos que deixaram alguma coisa, sejam também esquecidas depois de mortos, é compreensível. Mas que não deixem rastros alguém de sua passagem os que tinham realmente uma mensagem, isso sim nos parece como um doloroso empobrecimento da vida humana”.

O HOMEM

Nasceu em Santos, São Paulo, em 23 de janeiro de 1930, filho de Eduardo Viriato Corrêa da Costa e Arminda Vasconcelos Corrêa da Costa. Graduou-se em arquitetura pela Universidade Mackenzie em São Paulo. Empenhou-se na promoção do desenvolvimento da cidade de Santos onde realizou centenas de obras, destacadas no setor bancário, cinemas, hospitais e no ramo de navegação. Iniciativas culturais, sociais e filantrópicas, o levaram, entre outras honrarias a receber o título de cidadão Emérito da Cidade de Santos. Presidiu o Conselho de Administração da Fundação Pinacoteca Benedito Calixto, foi membro do Conselho de Administração do Museu de Arte Sacra de Santos e da Casa da Esperança de Santos. Ocupou a cadeira Marechal Rondon do Instituto Histórico e Geográfico de Santos e representou o estado do Rio Grande do Norte no Clube Cívico dos 21 Irmãos Amigos.

Por sua atuação profissional foi contemplado com várias comendas e títulos conferidos pelo Estado de São Paulo, entre elas a Ordem Superior do Ipiranga, e pela Câmara Municipal da Cidade de São Paulo “Medalha Anchieta” e o “Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo” em reconhecimento por sua dedicação e envolvimento com as questões sociais e comunitárias da Metrópole.

Casou-se com Rita Corrêa da Costa, companheira inseparável. Tiveram quatro filhos: Paulo Eduardo, Cesar Luís (in memoriam), Carmen Cinthia e Jorge Augusto, todos casados, e os netos Vitória, Júlio, Rita e Murilo Viriato. Todos os filhos, genros e noras, são Paul Harris Fellow. Católico fervoroso, foi distinguido cavaleiro da Soberana Ordem Militar de Malta, ligada ao Vaticano.

O ROTARIANO

Paulo Viriato Corrêa da Costa, foi rotariano por mais de 40 anos. Associou-se muito jovem ao Rotary Club de Santos em 7 de março de 1956 e por 25 anos com 100% de presença. Foi Presidente no período 1961-1962, e Governador do Distrito 461 (hoje 4610), de 1971-1972 e Presidente de Rotary International 1990-1991. Membro honorário de mais de 90 Rotary Clubes e de mais de uma dezena de Rotaract Clubes em sua área. Membro Emérito da Revista Brasil Rotário, atual Rotary Brasil. Na Fundação Rotária, companheiro Paul Harris com 2 diamantes e Major Donor.

Entre tantos prêmios no país, destaca-se o Mérito Rotário “Raimundo de Oliveira Filho”, conferido a rotarianos em destaque, e na Fundação Rotária: citação por Serviços Eméritos; Prêmio por Serviços Distinguidos, Título de Benfeitor e Prêmio de Pioneiro Pólio Plus. Além disso, foi membro do Colégio de Presidentes do Rotary International; Presidente do Colégio de Diretores Brasileiros do Rotary International; Membro do Colégio de Governadores do Distrito 4420 e Membro do Colégio de Presidentes do Rotary Club de Santos.

Ocupou todos os cargos de Rotary Clube International o que relembro como trajetória, mas não espelha com fidelidade o Rotariano apaixonado, dinâmico, empreendedor e entusiasta que foi Paulo Viriato. Brilhou com originalidade e pioneirismo ao lançar-se em defesa de questões ambientais com o lema “Preserve o Planeta Terra”, como nossa única morada na vida, com foco na pureza do ar, da água e na preservação da fauna e flora, como forma de sobrevivência.

Era homem de fé, entusiasmo e ação. Em 1972-1973, plantou um mini bosque no centro de Lindóia, SP, cuja atitude seria o embrião de seu projeto enquanto Presidente de RI em 1990-1991, quando plantou milhões de arvores em todo o mundo e contagiou rotarianos a fazerem o mesmo.

Apreciador de Fernando Pessoa e uma de suas frases favoritas era “tudo vale a pena se a alma não é pequena”. Coincidentemente meu lema enquanto Presidente de meu Clube em 2001-2002, ao qual instava acrescentando que o companheirismo era o veículo e o entusiasmo o combustível. Mais conexões com o Patrono.

Para Paulo Viriato Corrêa da Costa, qual seria a magia que Rotary exercia sobre rotariano, uma vez que ali não procura fama, riqueza ou poder? Porque serve-se com o coração. Fala-se de AMOR, compreensão, amizade e paz. Procura-se deixar um legado de fé, entusiasmo e otimismo para rotariano de hoje e do futuro. E termina dizendo que o fruto do amor é o serviço.

Em suas reflexões Paulo Viriato gostava de citar o Presidente de Rotary International 1969-1970, grande renovador de Rotary, James F Conway, cujo lema do período era “Revisar e Renovar”. As instituições se renovam por aqueles que ousam tentar e que se recusam a estar satisfeitos do modo como as coisas estão. E ainda em suas próprias palavras em “A grandeza do Patrimônio do Rotary”, “O poder, a vitalidade, a inspiração, a força de toda a grandeza do Rotary se concentram em realidade no rotariano. Nosso maior patrimônio são as pessoas que dão vida ao nosso ideal”.

Por toda sua vida, Paulo Viriato sustentou que a valorização do Rotary se dá pela fé e entusiasmo através da família, do companheirismo e da disponibilidade pessoal.

Eis o resumo da vida de um grande HOMEM e Imortal Rotariano.

Rio de Janeiro, 15 fevereiro de 2021.

Elizena Ribeiro Chaves de Carvalho

Cadeira Nº 05 – FUNDADORA